Sentia uma zanga danada. Esse aborrecimento seguia a passos duros. Resolvi encontrar um amigo, complacente, desses de bons ouvidos. Gosto de conversar com ele e tirar minhas dúvidas. Com poucas palavras, ele responde o que preciso e fico bem.
Caminhávamos pela rua, ele ouvindo.
Comecei com o episódio da praia, da sorveteria. A mocinha1 me perguntou os sabores. Pedi uma bola de creme, outra de flocos. Com um sorriso, ela entendeu e passou a cavar o sorvete no pote. De repente, a mocinha2 chama a atenção por um instante. Depois de atender a amiga, voltou a cavar. Ainda cavando, olha para mim e pergunta:
- Qual é mesmo o outro sabor?
- Flocos.
- Uma de creme e outra de flocos?
- Sim. Creme e flocos.
Continuou a cavar a primeira bola. Era uma bola bem servida aquela. Um minuto cavando. Colocou na casquinha e olhou para mim:
- Qual é o sabor da outra?
- Como?
- O sabor da outra bola, você pediu duas, né?
Tenho certeza que foi aí que tudo começou. Respirei fundo. Respondi o sabor e fui embora com o sorvete derretendo com a temperatura do meu olhar, sabe?
Viramos uma rua, ele ouvindo.
Outro dia fui com uns amigos num bar perto de casa. Fomos almoçar, era domingo e o sol estava forte. Fizemos os pratos e sentamos a mesa. O garçom ofereceu um chopinho, recusamos, mas ele persistiu ali:
- Uma cervejinha?
- Não, não. Depois.
- Tá geladinha, heim!
- Certo, mas não. Obrigado.
- Uma Brahminha então?
A partir daí, a zanga passava do nível 2 pro 4 direto, sendo 6 o máximo. (Muito culpa dos demasiados diminutivos.) Recusamos de novo. Mas ele:
- Tem Skol, Bohemia e Original também.
- Depois pedimos, certo?
- Tem certeza? Elas estão bem geladas agora.
- Temos certeza.
- Refrigerante então? Suco?
A tolerância já havia acabado. Não era possível. Não gosto de ficar chamando gerentes e tal, mas a situação estava ficando complicada. Fiquei um pouco inquieto, soltei os talheres com força. Bufei. Devo ter olhado para ele com cara de Hitler, não lembro. Ele, astuto que é, virou e se foi. Para sorte de todos, pois é.
Não sei os outros, mas eu fui do nível 5 para o 6 e sigo desde então. Está insustentável, sabe?
Continuávamos andando, ele ouvindo.
Mas o ápice foi no final de semana passado. Fui ao McDonalds, nada contra, muito pelo contrário.
Estava feliz, mas em ponto de ebulição. Porém tranqüilo. Entrei na fila, mcmoça1 se aproximou:
- Qual o seu pedido?
O de sempre, sem pensar.
- Número 5, batata grande, guaraná e um top sundae.
- O top sundae é pra agora ou retira depois?
- Pra agora.
Peguei o papel e cheguei ao caixa e entreguei. Mcmoça2 leu o papel:
- Número 5, batata grande, guaraná....R$10,90 senhor. Sobremesa acompanha?
Olhar raivoso.
- Leia o papel de novo.
- Ah sim, desculpe. Top sundae...R$13,90. Qual é o sabor?
- Chocolate.
- O top sundae é pra agora ou retira depois?
Aí já comecei a estalar. Fumacinha saindo, cérebro fervendo. Foi instantâneo. Havia alcançado finalmente o nível 6 de possessão. "Quero agora!" Respondi bruto. Pense numa resposta bruta.
Possuído pelo tinhoso maligno, aguardava ansioso ao lado do caixa o pedido chegar. Mcmoça3 se apresenta sorridente, a mais bonitinha.
Eu com o pescoço já meio torto e o olho esquerdo piscando sozinho, já esperava pelo pior. Mcnífico na bandeja, guaraná, batata grande...
- Está aqui senhor, seu pedido.
- E o top sundae?
- O top sundae? É pra agora ou retira depois?
Eu estava lendo 1984 e naquele espírito de revolta adquirida e vontade de estourar tudo tive meus dois minutos de ódio. Transferi para a moça de cabelo escuro o ódio que antes dedicava a controlar. 'Belas e vividas alucinações me atravessaram o cérebro. Haveria de matá-la a golpes de um cajado de borracha. Amarrá-la-ia nua a um poste e a crivaria de flechas como São Sebastião. Possuí-la-ia e a degolaria no momento do gozo. Além disso, percebi porque a odiava. Odiava-a porque era jovem, bonita e assexuada, porque desejava ir pra cama com ela, e porque nunca o faria, porque na cintura fina e convidativa, que parecia pedir que a segurasse com o braço, só havia a odiosa e broxante calça cinza do McDonalds.' Daí peguei tudo e fui embora antes de perder a cabeça, sabe?
De repente, paramos e perguntei a meu amigo:
- Você acha que eu estou exagerando?
Ele olhou bem para mim... e proferiu:
- Sim.
5.10.06
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8 comentários:
geladinha? choppinho? colherzinha? pedacinho? cafezinho? as garçonetizinhas da sorveteria eram bonitinhas pelo menos? kkkkkkk
e o sorvete tava geladinho?
kkkkk ARRRRRRRRRRRRRRRRR nada pior
Meu, isso sempre acontece comigo em lojas de sapato. Eu peço um e o cara trás outro....AAAAAAAAA!!! que irritante! kkkkk
Ainda bem que nunca aconteceu com voce, ou com o Jim, de pedir um CAFé, e a mocina perguntar: -"cafeinado, ou descafeinado?". hehehe.
Mas semana passada eu pedi um McNífico. O mocinho1 perguntou se eu queria baccon. Eu disse que nao...SEM BACON. Adivinha como veio o sanduiche?? hahahaha.
Seu Saraiva!!
E nas lojas de roupa? Quer mais alguma coisa? Calça? Blusa? Jaqueta? Paletó? Não? E uma camisetinha básica?
O 'hippie' e vc:
- E ae 'brodi', tá a fim de dar uma olhada nos trampos ae?
- Não obrigado, estou com pressa.
- Só uma olhada, sem compromisso, 'irmão'...
- Não obrigado, eu não uso essas coisas.
- Leva um presentinho pra sua gata então, 'meu chapa'...
- Obrigado, ela tbm não usa.
- Então leva um por 'apoio à arte'
- 'Arte'!? Vc deve estar andando muito com esse guinomos de durepox e essas aranhas de arame que vc faz, pra chamar isso de arte...
- mmm... Tem um cigarro ae, 'chefia'...?
Eu sempre dou o cigarro pra me livrar. Fico imaginando que quando eu não o tiver vão me pedir um abraço ou um aperto de mãos. O que importa e não sair de mãos abanando, não perder a viagem.
[]'s
DL
desculpe, mas gargalhei no tinhoso maligno... e agora não vou conseguir dormir, pq imaginei fortemente o "olho esquerdo piscando sozinho". :~
:***
Outro dia eu tava no McDonald´s e tava vazio. Acho que as moscas estavam se divertindo com aquela represa de óleo frio da batata e restos de resíduos nas chapas.
O fato é que, no momento que fui fazer meu pedido, notei que logo no caixa ao lado havia duas mocinhas do emicê. Uma delas estava oferecendo treinamento para a outra. Como tudo tava frio, meu lanche demorou, e eu não pude deixar de prestar atenção na conversa.
A emicê-2 diz pra emicê-1 (assim como em empresas, 1 é o funcionário novo e 2 é o funcionário pleno):
- Olha, o tempo para fritar batata é de 20 em 20 minutos. Agora são 4:20. Qual será o próximo horário?
A emicê-1 olha, bota a mão na boca com aquela cara de dúvida e demora 30 segundos pra responder (força de expressão) até que:
- Pensa comigo, se agora é 4:20, mais 20 minutos, que horas serão?!? - Repete a emicê-2.
A emicê-1 pensa, pensa, pensa até que:
- Serão 4:50.
(GRRRRRRRRRRRR!!!!) A emicê-2 diz:
- Nããão, vamo lá, de novo, 4:20 + 10 minutos é quanto?
Pensa, pensa, pensa e....:
- 4:35. (~*%&*%#!!!) Ah...não, 4:30.
Ahhhhhhhhhh tá....E:
- Então, 4:30 + 10 minutos?
(Aí de novo aquela demora):
- Serão 4:45. Não, 4:35. Ou 4:50?
(GRRRRRR! Assim como fazia o chutômetro do Chaves)
Nessas horas a emicê-2 respira e diz:
- Calma, vamo lá de novo...
Haja paciência. Em aproximadamente 3 minutos e 10 seg (tempo do miojo) a menina tentou fazer um raciocínio da hora e não chegou a uma conclusão. Ainda bem que meu lanche chegou!!!!
Vamo lá 4:20 + 20 minutos é, amiguinhos?!?!?!?
Respondam todos numa voz só!
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