24.5.09

81º - voar, voar, subir, subir

O voo mais aterrorizante da minha vida foi quando fomos da Argentina para o Paraguai. O avião chacoalhava tanto a ponto de descabelar as aeromoças.

Até aí tudo bem, o foda foi quando, num momento de calmaria, o jantar foi servido e o passageiro ao meu lado queria tomar suco de laranja justo quando as turbulências recomeçaram. É claro que ele ficou como criança mijada, felizmente não respingou em mim. Minutos depois, não contente, ele tentava comer o "nhóc" à bolognesa com aqueles garfinhos de plástico que não seguram nada...

Entre nós, passageiros do voo, existia um time mirim de basquete paraguaio. E era isso que me causava mais medo.
Todos estavam com medalhas de ouro no pescoço, um deles levava um troféu enorme. Do momento do embarque até o desembarque imaginava as notícias sobre o talento promissor que o país perdia, um time de basquete medalha de ouro vitimado num voo qualquer, que eu fazia parte.

Sem falar que entre os mortos, eu seria apenas mais um. Eles seriam os verdadeiros heróis. Meu nome iria passar rapidamente na lista das vítimas fatais, escrito errado, provavelmente. Essas coisas conspiravam para que o avião realmente caísse em algum pântano sujo, cheio de muamba, com o risco de eu ser confundido póstumamente com algum traficante de eletrônicos. Naquele momento tudo era tragédia e não existia um botão de reset.

Amigos, voar de avião definitivamente não é para qualquer um, fato. Insistem em dizer que é o meio de transporte mais seguro do mundo, não fosse o fatal "acidente do abacate" que lesou meu tio Zé. A carroça de meu avô Guilherme, que alcançava 15km por hora, ocuparia essa respeitosa posição.

Não sei qual é o critério pra avaliar que um meio de transporte é mais seguro que outro, se for pelo número de mortes que ele causa, o avião não estaria em primeiro nem fudendo. Certeza que isso aí é tudo coisa da Rede Globo.

Mas os momentos de tensão sempre vinham acompanhados de uma doce voz feminina pedindo para mantermos as poltronas em posição vertical. Um tipo de norma de segurança que nunca vou entender.
Essas aeromoças parecem fisioterapeutas fundamentalistas cuidando de nossa postura: "mantenham seus assentos em posição vertical durante a decolagem, turbulências, pouso, no trono, no almoço, no coito, em qualquer lugar..."

O maior problema de morrer em posição ereta, é o caixão não fechar. E se o avião estiver realmente caindo, acho que pilates postural será um dos meus últimos pensamentos. Na certa estaria tentando passar conversa em alguma das aeromoças e realizar uma das maiores fantasias dos homens do sexo masculino: "sabe, acho que vamos morrer, ninguém ficará sabendo..." ou "gostaria de provar a capacidade de pressurização do banheiro enquanto ninho de amor..." ou, quem sabe ainda, "Adoro moças de uniforme."

Pensem só, a turbina em chamas ao lado de sua janela, você brigando desesperadamente por uma máscara de oxigênio com seus vizinhos de poltrona, ignorando homericamente (ho.me.ri.ca.men.te, adj (Homero, np+ente2)- 1 Do latim Mussunlítico, homériquis, à moda de Homer. 2 imprudentemente. 3 - estupidamente. 4 chocolaaaaaaate. 5 doup!) aquelas explicações sobre como agir em momentos de crise sem entrar em pânico, de repente chega uma aeromoça, com as roupas chamuscadas e o cabelo em chamas: "senhor, por favor, coloque sua poltrona na posição vertical".

1.5.09

80º - atos que marcaram a semana

Ato 1
Os caras na laxonete, laxes na mesa, empolgação. Passa o ketchup, passa a mostarda, braço esbarrou no copo de milk shake, vai tudo pro chão.

cara 1 -Ei cara, isto foi um tremendo de um lactovacilo.


Ato 2

Da janela do restaurante deu pra ver a mina estacionando o carro, dirigia mal bagaraio, e os Zés da mesa do lado comentaram:

Zé1 -Nossa, aquela mina tá fazendo a baliza que nem a cara dela.
Zé2 -Pô! Então você deve achar que ela está fazendo direitinho, porque ela é beeeeem gatinha.
Zé1 -Ah! Ela fez a baliza que nem o cu dela.
Ela sai do carro.
Zé2 -Então você achou a baliza muito boa, né?
Zé1 -Ah...
Zé2 -Por que você não diz logo que ela fez a baliza que nem essa sua cara de cu?


Ato 3

Tava lá no interior conversando com minha tia, tava meio nublado, ventando gelado, mas ela não parava de reclamar do calor.

-Pô Tia, é a fase da menopausa chegando, hein.
-Fase do menospau?
-Menopausa.
-Menospau...menospau...


Ato 4

Depois das turbulências, esperança de não ter bagagens estraviadas e uma madrugada inteira em bancos desconfortáveis no Paraguai, enfim chegamos no aeroporto argentino. Mas lá não éramos esperados por ninguém, muito menos pelo argentino que ia nos pegar de van para o incrível clássico. Minutos se passam e nada. Aquela nuvem negra de disconfiança de qual as coisas não iam dar bem continuava sobre nós. Até que, passados 40 minutos angustiantes de espera, eis que finalmente, somos abordados pelo tal cara da van.

Tem espaço na van, entramos. Devidamente acomodados, trânsito livre, somos atingidos pelo chiado alto do rádio. O motorista zapeia de rádio em rádio tentando achar algo útil para se ouvir até que encontra um em que se anuncia a próxima canção. De repente um riff de baixo declara a bela recepção, ele fecha o punho e dá um soco tímido e individual de comemoração, aumenta o volume até o 40 e deixa rolar 'Eye of The Tiger'. Demais!!!

Depois disso, nada mais poderia dar errado. Exceto uma coisa:



Argentino hijo de puta!

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