Tem dias que andar de trem se torna uma experiência absolutamente dispensável. Garanto que se eu não tivesse sido traído hoje pelo meu possante (o Trovão-azul), não teria recorrido jamais a esse maldito transporte.
Somente pelo fato de ter de andar até a estação - jornada inglória e deveras tigresca, afinal, consta no Aurélio, que quem anda a pé é peão - percebe-se que o hábito de pegar o trem é pantanesco.
Finda a caminhada, fila para comprar o passe. Fila, aliás, é o esporte predileto dos habitantes do pântano! Adoram pegar fila pra tudo: jogo de futebol, show (no Ibirapuera de graça, é claro), no INPS, na caixa econômica, etc.
Comprado o passe, atravessa-se a catraca (sabidamente um instrumento para controle de massas) e se você tiver sorte, ouvirá aquele barulho característico do trem, avisando que irá partir. Nesse momento ocorre um fenômeno interessante, pois os tigres, onças, lontras e afins, ao ouvirem esse som, saem em disparada, desesperados para pegar esse específico trem, como se não houvesse nenhum outro além desse em todo o planeta. Minha teoria é que esse som emite também um sibilo subsônico, captado apenas por ouvidos pantaneiros e que diz: "Rápido, rápido! Tem uma fila enorme nesse vagão!".
Depois de descer as escadas rolantes, acompanhado por onças em disparada pela escada normal ao lado ou atropelando desavisados pela rolante mesmo (outro trem acabou de dar o sinal), você chegará a plataforma de embarque. Chamando assim, até parece que a experiência não será tão ruim, mas quando o trem chega apinhado dos mais diversos habitantes do mangue, desde ornitorrincos e capivaras até os bons e velhos tigres, a realidade te dá um tapa... sem luva de pelica, com a mão espalmada mesmo, daqueles que deixam uma marca de mão vermelha na cara!
Obviamente que você não conseguirá se sentar num daqueles maravilhosos bancos, onde só cabe um "bum" (o outro "bum" ficará ou suspenso em pleno ar, ou apoiado em outro "bum" alheio). Isto é, a menos que você seja um idoso e alguém se levante para, educadamente, lhe ceder o lugar. Se bem que as pessoas sentadas são freqüentemente acometidas pelo mal do "sono tão pesado que, mesmo num vagão lotado, fétido e sacolejante eu não acordo e percebo que tem um velho caquético de pé bem na minha frente" ou pelo mal do "assobio desvairado olhando para o nada e fingindo que estou suuuuuper distraído e não percebi que tem um velho caquético que mal para de pé bem na minha frente", quando estão na presença de anciãos.
Uma vez que você não conseguirá se sentar, você terá de se segurar numa daquelas degradantes barras metálicas. Elas são absolutamente nojentas, invariavelmente melecadas, grudentas, sebentas. Tem tanta nhaca naquilo lá que eu acho que tem uma equipe da CPTM especialmente designada para zelar pela melequice nas barras. Todo dia de manhã o pessoal vai de vagão em vagão espalhando banha de porco, ranho, catota e graxa em todas as barras. Eu até imagino a reunião dos caras: "Pessoal, ontem tivemos duas pessoas comentando que as barras metálicas estavam limpas! Um deles disse que podia ver seu reflexo na barra!! Isso é inadmissível!! De agora em diante teremos dois turnos de espalhamento de meleca!".
Mas isso não é tudo, você ainda corre o risco de ter ao seu lado um pizzaiolo de braço levantado!! Sim, porque ninguém com disfunções sudoríparas jamais teve a brilhante idéia de segurar na barra vertical e esconder a suvaqueira, eles fazem questão de segurar na barra horizontal e mostrar suas muzzarelas para todos! O problema é que elas cheiram a gorgonzola!
Finalmente chega a sua estação, mas o tormento ainda não terminou. Você acha que é fácil sair do vagão? É praticamente uma Piracema! Você lutando incansável contra uma maré de tigres forçando porta a dentro incessantemente... Se conseguir sair, mais uma luta para chegar até a escada rolante.
A odisséia está próxima do fim e você de seu destino! Eis que surgem as placas indicando os nomes das ruas para onde as respectivas saídas levarão! Sim, você está muito próximo do Nirvana, da ascensão suprema e definitiva, da paz celestial! Mas, não se anime tanto, pois é líquido e certo que a sua saída será a única que não tem escada rolante...
Somente pelo fato de ter de andar até a estação - jornada inglória e deveras tigresca, afinal, consta no Aurélio, que quem anda a pé é peão - percebe-se que o hábito de pegar o trem é pantanesco.
Finda a caminhada, fila para comprar o passe. Fila, aliás, é o esporte predileto dos habitantes do pântano! Adoram pegar fila pra tudo: jogo de futebol, show (no Ibirapuera de graça, é claro), no INPS, na caixa econômica, etc.
Comprado o passe, atravessa-se a catraca (sabidamente um instrumento para controle de massas) e se você tiver sorte, ouvirá aquele barulho característico do trem, avisando que irá partir. Nesse momento ocorre um fenômeno interessante, pois os tigres, onças, lontras e afins, ao ouvirem esse som, saem em disparada, desesperados para pegar esse específico trem, como se não houvesse nenhum outro além desse em todo o planeta. Minha teoria é que esse som emite também um sibilo subsônico, captado apenas por ouvidos pantaneiros e que diz: "Rápido, rápido! Tem uma fila enorme nesse vagão!".
Depois de descer as escadas rolantes, acompanhado por onças em disparada pela escada normal ao lado ou atropelando desavisados pela rolante mesmo (outro trem acabou de dar o sinal), você chegará a plataforma de embarque. Chamando assim, até parece que a experiência não será tão ruim, mas quando o trem chega apinhado dos mais diversos habitantes do mangue, desde ornitorrincos e capivaras até os bons e velhos tigres, a realidade te dá um tapa... sem luva de pelica, com a mão espalmada mesmo, daqueles que deixam uma marca de mão vermelha na cara!
Obviamente que você não conseguirá se sentar num daqueles maravilhosos bancos, onde só cabe um "bum" (o outro "bum" ficará ou suspenso em pleno ar, ou apoiado em outro "bum" alheio). Isto é, a menos que você seja um idoso e alguém se levante para, educadamente, lhe ceder o lugar. Se bem que as pessoas sentadas são freqüentemente acometidas pelo mal do "sono tão pesado que, mesmo num vagão lotado, fétido e sacolejante eu não acordo e percebo que tem um velho caquético de pé bem na minha frente" ou pelo mal do "assobio desvairado olhando para o nada e fingindo que estou suuuuuper distraído e não percebi que tem um velho caquético que mal para de pé bem na minha frente", quando estão na presença de anciãos.
Uma vez que você não conseguirá se sentar, você terá de se segurar numa daquelas degradantes barras metálicas. Elas são absolutamente nojentas, invariavelmente melecadas, grudentas, sebentas. Tem tanta nhaca naquilo lá que eu acho que tem uma equipe da CPTM especialmente designada para zelar pela melequice nas barras. Todo dia de manhã o pessoal vai de vagão em vagão espalhando banha de porco, ranho, catota e graxa em todas as barras. Eu até imagino a reunião dos caras: "Pessoal, ontem tivemos duas pessoas comentando que as barras metálicas estavam limpas! Um deles disse que podia ver seu reflexo na barra!! Isso é inadmissível!! De agora em diante teremos dois turnos de espalhamento de meleca!".
Mas isso não é tudo, você ainda corre o risco de ter ao seu lado um pizzaiolo de braço levantado!! Sim, porque ninguém com disfunções sudoríparas jamais teve a brilhante idéia de segurar na barra vertical e esconder a suvaqueira, eles fazem questão de segurar na barra horizontal e mostrar suas muzzarelas para todos! O problema é que elas cheiram a gorgonzola!
Finalmente chega a sua estação, mas o tormento ainda não terminou. Você acha que é fácil sair do vagão? É praticamente uma Piracema! Você lutando incansável contra uma maré de tigres forçando porta a dentro incessantemente... Se conseguir sair, mais uma luta para chegar até a escada rolante.
A odisséia está próxima do fim e você de seu destino! Eis que surgem as placas indicando os nomes das ruas para onde as respectivas saídas levarão! Sim, você está muito próximo do Nirvana, da ascensão suprema e definitiva, da paz celestial! Mas, não se anime tanto, pois é líquido e certo que a sua saída será a única que não tem escada rolante...
No meu Ferrorama essas coisas não existiam!
Uma adaptação da dramaturgia bagiana.
4 comentários:
é bem por aí mesmo, rs...
várias inhácas, éca...
vez ou outra o trovão azul merece uma folguinha
Tá na hora, tá na hora...
Atualiza =)
Gostcho mto dos textos...
bjoooooooooooooooooozzz
rsrs
Vou fazer pressão pra vc escrever logo... no melhor estilo Clarissa
tô indignada...
por favor... ñ deixe o pantanoz morrer
Postar um comentário